2.09.2008

o livro "das infimidades" para baixar

publiquei o livro das infimidades em 2004 pelo selo in vento (inventado por mim e alguns amigos para lançarmos nossas produções), com uma imensa ajuda do pessoal do memória gráfica typographia escola de gravura, ong na qual eu trabalhava havia algum tempo ministrando oficinas de literatura e criação literária. fizemos, portanto, uma impressão tipográfica, coisa já pouco usada no nosso mercado editorial, devido à imensa trabalheira que dá, e ao custo da mão de obra.


são, ao todo 38 poemas curtos ou quase, reunidos no meio de uma meada maior ao longo dos meus 10 primeiros anos dedicados à criação. o livro foi bem recebido. como a tiragem foi bem pequena (300), e a procura foi grande, fiquei logo sem nenhum exemplar disponível. por esta razão, resolvi fazer esta edição fac-simile em formato pdf:


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resenha de mário alves coutinho

Poesia aqui e agora
Estado de Minas, Caderno Pensar (19/02/2005)


Leo Gonçalves, em idade cronológica, é um poeta novo; mas como as vias e os caminhos da poesia são mágicos (mas não só; a poesia é magia, mas realismo também), ele tem um conhecimento e uma sabedoria do mundo que vão além dos anos vividos. Quando ele escreve, num de seus poemas de das infimidades que “um poema bonito/ seria assim assim como um poema conflito”, ele já intuiu, mas provavelmente já deve ter vivenciado, algo que William Blake, já sabia: “Sem opostos não há progresso. Atração e Repulsão, Razão e Energia, Amor e Ódio, são necessários para a existência humana” (O casamento do céu e do inferno).

Para ele, a beleza não existe somente no ideal, no etéreo, no excepcional, mas na realidade, no cotidiano, no dia-a-dia. Leo Gonçalves é daqueles poetas que procuram pensar e falar da sua experiência, por mais pequena e ínfima que seja, e daí extrair conhecimento, sabedoria, música, quer dizer, poesia. Do etéreo, ele também trata, só que com ironia: “Até gosto às vezes/ de brincar de anjo/ do que não gosto/ é da tremenda dor/ que me fica depois/ nas asas”.

Assim é a poesia de Leonardo Gonçalves: minimalista, reduzida ao essencial, preocupado em extrair beleza (e conhecimento) da vida mesma que ele leva, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Pois, como escreveu Octavio Paz, em O arco e a lira, “o poeta escuta o que o tempo diz, ainda que ele diga: nada”. O tempo pode dizer o amor (“deve ter algo no céu/ da sua boca/ que me faz brilhar”, que lembra outro poema em prosa de Blake, “aquele cuja face não ilumina, nunca se tornará uma estrela”) ou, talvez, o desespero (um poema em que repete os refrões, “e você ria”, “você não vinha”, “você mentia”). Mas o tempo, através de Leonardo Gonçalves, está sempre dizendo que a vida é horror e delícia, claridade e escuridão, noite e dia, tudo junto, inseparável (e é isto que, finalmente, faz a sua beleza): “Quando eu morrer/ favor anotar no final da minha paixão:/ morreu de tanto viver”.

Aí está toda a magia da poesia, em sua beleza e completude: até mesmo o ato de morrer, pode ser, contradição suprema, uma afirmação, na verdade e ainda um ato de vida. Pois, como escreveu William Blake, “tudo que vive é Sagrado”. Ou, como afirmou Octavio Paz, “poesia, momentânea reconciliação: ontem, hoje, amanhã; aqui e ali; tu, eu, ele, nós”. Poesia, como bem sabe Leo Gonçalves, é conflito, mas também reconciliação.

(Mário Alves Coutinho)

6.23.2007

dedicatória

deve ter algo no céu
da sua boca
que me faz brilhar
e por falar em alegria
desce mais um balde por favor
mais gasolina
pra jogar no meu amor


(em parceria com anderson almeida)

inverno.

embolamos as bocas
no cinema seu cheiro
rithm'n blues & chocolate

8.30.2005

um poema bonito
seria assim assim um poema conflito
rio-percurso no mundo infinito
cabeça de chumbo
palavra de vento

8.18.2005



borrão de luz

no meio da neblina
o instante ensina



estrela no destilado
nem um gole no drinque
e já estou
do outro lado
o poema vem nervoso
dou-lhe uma sessão de shiatsu
pra pegar textura
de pele, pétala

com essa suavidade
a gente rasga
a barriga do mundo

pá & chão

quando eu morrer
favor anotar no final da minha paixão:
morreu de tanto viver

8.15.2005

uma lima para me coçar
retirar das minhas quinas
as partes pontiagudas
que não decidi

pregos afloram da minha pele
como espinhas
onde não posso ver

quero uma lima para me coçar
retirar das minas quinas
as partes pontiagudas
que não escolhi
coração-balão
prendeu-se nos galhos
andorinhas rodeando

8.08.2005

o vento que veio
passou rasgando
poemas velhos

8.04.2005

de bicicleta

amar amar amar
persigo esse horizonte
entre curvas e janelas

andar andar andar
conheço esse relevo
por apalpadelas
asfalto
molhado
criança
grita
ai

cai

7.29.2005

eu te lançava cusparadas no sublime
e te esperava numa esquina madrugada
eu sabia que você não vinha
e você ria
e você ria
e você ria

eu te esperava numa esquina madrugada
de amor com curitiba e ninguém vinha
na madrugada o seu amor não era nada
você não vinha
você não vinha
você não vinha

eu te encharcava o corpo inteiro com cachaça
e te mandava para o quinto dos infernos
você dançava sobre as minhas cusparadas
e bebia
e bebia
e bebia

e eu vivia amaciando a tua graça
minha gravata pendurada no teu pelo
eu passeava pelos cantos pelas praças
você mentia
você mentia
você mentia

eu gravava nos detalhes nosso sonho
e botava no fantástico em cadeia nacional
você dançava a noite inteira sobre o cuspe
e eu dançava com você sobre o meu corpo
em cadeia nacional
eu não podia
eu não podia
eu não podia
sou um poema de ondas curtas
minha natureza clandestina
não permite
ver a cara do capitão


um poema de pernas curtas
os pulmões
não permitem
o fundo

sou o que resta sobre as águas
tudo já foi dito
mas como eu não acredito
deixo o dito
pelo não dito

e se você quiser
eu repito
foi no poema vem pra vida
que eu chamei você amor

vê se desce dessa trança
e vem dançar comigo

sai daí
desse congelador
nada mais é
como eu pensava
a dois segundos atrás

dois passos adiante
menos dois passos a mais
só falta meio mundo
pra eu viver entre as pessoas normais
não é por querer ser moderno
não é por querer ser modesto
presto o poema um relance
preste atenção nas nuances
palavra a palavra a palavra
me revira pelo corpo: lava
palavra palavra tropeço
palavra me vira do avesso